Thursday, January 08, 2009



Hoje parei pra ouvir um pouco de música no Jamendo. Trata-se de um site onde artistas podem hospedar seus álbuns desde que estes estejam licenciados sob alguma das licenças Creative Commons. Algum tempo atrás eu convenci meu amigo Guilherme Padovani, vocalista da banda Motocontínuo, a adotar uma licença CC by-sa nas músicas da banda e depois ajudei a inscrever a banda no site.

Um questionamento que nos fizemos na época foi que se estávamos, por meio da licença, permitindo a criação de obras derivadas, então deveríamos fornecer os meios para tal. Ou seja, deveríamos distribuir não apenas o CD pronto, mas também as faixas de estúdio, o "código fonte" do álbum. Sem isso, ficaria muito difícil fazer alterações nas músicas. A única alternativa que restaria para quem não tivesse acesso às faixas de estudio seria regravar a música em estúdio novamente já que tentar separar os canais seria bastante difícil e provavelmente não ficaria com boa qualidade.

Sendo assim, o Guilherme me passou 7 CDs onde estavam os arquivos de áudio das gravações de estúdio separados em canais para cada um dos instrumentos. Como o conteúdo era pesado, decidimos distribuir por P2P. Criamos arquivos ISO dos CDs e fizemos upload no PirateBay. Entretanto, como não tem muita gente baixando este conteúdo, o torrent provavelmente está sem seeders nesse exato momento. Além disso, tem muita gente que não sabe baixar torrents. A tentativa de usar P2P foi fracassada. Imagino que o ideal seria um sistema que exigísse o mínimo possível de conhecimento técnico de seus usuários. Eu realmente espero que pessoas interessadas em música acessem este conteúdo. Não gostaria de limitar o acesso só por que eventualmente as pessoas não sabem lidar com arquivos torrent.

Hoje fiquei pensando bastante sobre esse problema. Enquanto no software livre ocorrem de fato modificações, aprimoramentos, etc. na "música livre", essa prática parece ser quase inexistente (corrijam-me com contra-exemplos caso eu esteja errado). Quais seriam os motivos? Será que as pessoas simplesmente preferem criar música sempre do zero? Concordo que é totalmente subjetivo falar sobre aprimoramentos de uma obra artística. Na área técnica isso é certamente uma questão mais objetiva do que na música, por exemplo.

Derivação incremental propriamente dita - modificações em detalhes como substituir uma linha de baixo deixando todo o resto intacto - eu acho que não teria muito valor. Talvez o maior valor da música livre esteja no acervo de recursos disponíveis para remixagem. Sendo assim, artistas criariam suas próprias obras originais com gravações de novas faixas em estúdio e as complementariam com samples retirados de outras obras livres disponíveis na rede. Ainda assim, para que isso seja produtivo continua sendo necessário publicar as faixas de estúdio na rede para enriquecer este acervo comum.

Vejo muita gente falando a favor do uso de licenças livres, mas não vejo muitas pessoas com as mesmas preocupações que estou expondo neste post. Também ainda não vejo surgirem soluções tecnológicas para viabilizar essas idéias. Seria interessante (e útil) algo como uma SourceForge para música. Ou talvez algo como o Open Clipart Library. Como relatado anteriormente, minhas tentativas de por isso em prática junto com a banda Motocontínuo não tiveram sucesso. Tentei até entrar em contato com o pessoal do Jamendo propondo que o serviço deles contasse com uma área para upload das faixas de estúdio, mas eles também não providenciaram ainda uma solução para o problema já que aparentemente não há demanda suficiente.

Na minha concepção, um sistema ideal além de fornecer para download as faixas de estúdio de um determinado álbum, também deveria ser capaz de indexar este conteúdo e permitir que os visitantes visualizassem o acervo de áudio classificado por tipos de instrumento, estilo musical, etc. Obviamente essa classificação poderia ser feita pelos próprios artistas no momento em que fazem o upload. Entretanto, aposto todas as minhas fichas que muito pouca gente se daria o trabalho de inserir estes metadados. Portanto, seria necessário criar tecnologia para inferir esses metadados automaticamente. O que falta pra concretizar essa tecnologia? Muita matemática! A solução não é trivial.

No final das contas, isso parece ser mais uma tarefa para o Google: "A missão do Google é organizar as informações do mundo todo e torná-las acessíveis e úteis em caráter universal."

RicBit talvez?!

7 comments:

  1. Cara, faz sim sentido. Isso de modificar uma música chama-se "remix" e no universo dance/hip-hop é mais comum do que você imagina, é aliás, parte fundamental da cultura. O universo rocker, não. Talvez por ter surgido antes da possibilidade de copiar e colar e da construção musical em blocos...

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  2. Opa Juca, vc esqueceu de um detalhe mais simples, porém acho que até mais importante
    O outro "código-fonte" da música é a partitura (ou cifra/tablatura ou o q queiram)
    Fora pra quem é DJ, a maior parte dos músicos provavelmente teriam interesse em ter permissão para tocar a música e toca-las do jeito que quiserem, fazendo seus próprios arranjos (as modificações).
    Eu já escutei algumas coisas no Jamendo, mas não chequei se há nele um suporte específico para as partituras das músicas.
    Mas com certeza seria mais fácil providenciar isso, do q o suporte para a música separada em faixas, q tem um público alvo muito mais restrito: pessoas q entendam de música E q entendam de edição de som E q saibam baixar torrents
    =)

    Leonardo Leite

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  4. léo, o uso de torrent foi apenas uma tentativa. Uma solução não precisaria usar torrent.

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  5. Eu sei, foi só uma brincadeira a parte do torrent

    Aliás, eu sou mais do universo rocker xD

    Mas creio q isso tudo não é feito no rock/metal, pois neste tipo de música se valoriza muito a capacidade de se fazer a coisa ao vivo, tocando em instrumentos de verdade.
    Muitos grupos famosos são altamente criticados por terem gravações em estúdio bem feitas, mas por não darem conta do recado no ao vivo.

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  6. Enquanto eu lia seu post eu pensei nisso que o Léo falou sobre partituras, essa é uma maneira de "liberar a música". Apesar que exige um conhecimento um tanto quanto específico (tanto por parte de quem libera quanto por quem a recebe), que é o de escrever/ler cifras e afins. Eu por exemplo não manjo nada, mas poderia me divertir com remixes. Acho que são dois públicos (com intersecção, claro!).

    De qualquer forma, esta é mais uma idéia de projeto para o EP? rs...

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  7. "Algo como Open Clipart Library" --> freesound.org, site extremamente útil. :-)

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