Saturday, January 10, 2009




Um amigo me mandou alguns emails nessa semana e depois de conversarmos um pouco sobre sistemas operacionais ele lançou o seguinte questionamento:

a questão "windows X linux" foi só pra ilustrar.

no longo prazo, acho sistemas operacionais (as we know them) nem
existirão. Manja? Isso me parece uma briga por migalhas.

Digo isso pq acredito q, no futuro, não teremos um windows para rodar
programinhas. Não precisaremos de HD, OS, etc. Estará tudo no ar, tá
ligado? Internet sem fio de banda gigantesca, faremos tudo por aí.

Imagina:
- quem brigava pelo mercado de PAPEL CARBONO há 40 anos atrás
- quem tinha uma mina de sal e achava q estava dominando (depois q a
refrigeração domiciliar ficou acessível à todos, a demanda
praticamente sumiu)

Portanto, o q tenho a dizer talvez seja: existe a possibilidade de vcs
estarem se preocupando com MIGALHA.

Já pensou nessa possibilidade?


E aqui está a minha resposta (achei interessante postar aqui no blog para mais pessoas também refletirem sobre esta questão):

sim, já. É a tendência do "cloud computing".

Sinceramente, acho que grande parte disso é baboseira. Estratégia de marketing mesmo. Uma pequena parte está correta. Por exemplo, o que temos hoje como gmail, flickr, youtube, etc. Existem serviços que realmente funcionam bem quando executados "na nuvem".
Mas abrir mão totalmente de uma plataforma computacional local ainda é inviável. E deve continuar por muito tempo sendo assim pois há tarefas que são ideais para serem executadas localmente mesmo, por exemplo processamento de gráficos 3d. Há ainda impedimentos tecnológicos nesses casos mesmo que esses possam obviamente ser superados por novas tecnologias no futuro.

Além disso, eu tenho muito medo dessa tendência por que ela põe em risco justamente essa plataforma de incentivo à criatividade que é o computador pessoal hoje em dia. O computador pessoal é uma máquina maravilhosa justamente por ser uma máquina genérica que permite que se faça absolutamente qualquer coisa que um programador quiser. É como se fosse um mini-laboratório dentro da casa de cada pessoa. Aquelas pessoas que eventualmente se interessarem por computação têm todo o potencial e recursos ali já disponíveis com absolutamente nenhum custo monetário adicional. O único custo para criar é o próprio custo intelectual de se engajar na atividade criativa. É como se vc tivesse um ateliér de arte embutido em cada moldura de quadro do mundo. Todas as pessoas que têm quadros têm aquele potencial disponível. Algumas pessoas vão querer só apreciar a pintura que já está no quadro (análogo aos usuários que não têm interesse em desenvolver programas de computador), mas outras pessoas podem eventualmente se interessar em fazer suas próprias pinturas e, para estes, não haveria barreira de entrada pois todo o ateliér estaria ali embutido por padrão à espera de um surto de criatividade.

É isso que temos em casa hoje em dia. Máquinas versáteis esperando por pessoas inovadoras que queiram produzir soluções computacionais para os mais diversos problemas. E há evidências de que pessoas de fato fazem isso motivadas pelos mais diversos aspectos e freqüentemente se agrupam para participar em atividades criativas coletivas (o que é hoje, por exemplo, o software livre). O cloud computing transforma o PC genérico em um terminal burro. Joga toda a capacidade de processamento para a "nuvem" e leva embora o "ateliér". Num ambiente 100% cloud computing, o custo de se inovar será mais alto, pois os meios de produção tecnológica estarão majoritariamente nas mãos apenas dos provedores de serviço. Computadores genéricos deixaram de estar presentes nos lares pois sua produção industrial será substituida pela produção em larga escala dos terminais burros. O poder computacional dedicado à criatividade caseira estagnará na geração atual de computadores que gradativamente se extinguirá devido às panes naturais do envelhecimento dos equipamentos.

O quanto isso irá afetar a produção criativa é difícil de se dizer, mas a certeza é de que afetará negativamente, pois as pessoas não terão mais (por padrão) autonomia de criar suas próprias soluções computacionais. Isso eu não quero.

6 comments:

  1. Concordo com você. Não acho que vamos nos mover para um mundo 100% cloud computing.

    Acho que podemos até ir mais além na sua analogia de atêlie. Codificar seus próprios programas é legal sim, mas o grande benefício do atêlie digital, ao meu ver, é você poder escrever um livro, compor uma canção, projetar sua casa, desenhar ou aplicar efeitos em alguma imagem entre milhares de outras atividades criativas, sem o custo adicional, como você mesmo disse.

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  2. Fabs,

    ok, mas essas atividades que vc citou não são postas em cheque pelo cloud computing (é possível e provável que ferramentas para tais atividades estejam disponíveis "na nuvem"). Já fazer seus próprios programas em casa é uma atividade criativa que pode acabar entrando em extinção caso a indústria pare de fabricar computadores pessoais.

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  3. pensando a longo prazo...
    isso vai ser uma merda
    imaginem alguem (G..) com um monopolio total de sistemas e recursos..

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  4. Concordo um pouco com sua preocupação... Mas num mundo de cloud computing ainda é possível que existam servidores onde usuários podem entrar e ter acesso a compiladores e coisa do tipo, então acho que o perigo de alienação da população tem menos a ver com limitações das ferramentas, e mais de como utilizá-las.

    O potencial dos nossos micros são certamente muito pouco aproveitados pelo usuário comum hoje em dia. Eu queria ver esse potencial melhor explorado, queria ver mais programadores, mas também não vai dar pra segurar a tendência natural de se criarem máquinas simples, inflexíveis, que apenas fazem tarefas mundanas, e não se prestam muito ao desenvolvimento... Basta olhar pros "portáteis" aí.

    Eu lembrei aqui foi duma notícia "bombástica" que saiu a pouco tempo, dum cara prevendo que haveria "mais linux do que windows em 2009", porque seria melhor usar Linux pra criar os sistemas que vão rodar em notebooks simples, dando boot rápido, e oferecendo acesso a aplicativos simples, quando vc não tiver precisando rodar aquele programão pesado...

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  5. Bem, acredito que o futuro tende pra algo mais cinzento... nem preto, nem branco.

    Cloud computing vão servir bem àqueles usuários que executam atividades simples como editar um texto ou foto, rodar uma planilha, ou assistir um vídeo.

    No entanto, para atividades mais elaboradas ou aplicações profissionais como rodar um jogo "pesado", gravar e mixar um música e editar vídeos, criação e desenvolvimento de softwares, continuarão sendo necessários computadores pessoais com elevado poder de processamento.

    Me parece mais que uma coisa irá complementa a outra, e não eliminá-la.

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  6. Só alguns pensamentos a respeito do cloud computing...

    Como o Doug já tinha dito, para aplicações que demandam resposta imediata (como um jogo!), não há como usar o cloud. A demora entre a entrada de comandos e processamento dessa resposta torna inviável, com a tecnologia de rede que temos hoje. Para esse tipo de aplicação, nossa tecnologia de link tem que mudar totalmente.

    Quanto a renderização... Interessante. Acho que até pode ser viável em cloud, havendo uma EXCELENTE programação de paralelismo. Para malhas que não influem umas nas outras através de sombras, etc. Mas tem uma necessidade de filas e outros problemas não tão triviais.

    Enfim, o ponto central do post, a limitação do programador, arquiteto, designer ou o que for. No fundo, acho irônico que os sistemas operacionais e as linguagens de alto nível têm o objetivo de "libertar" o programador de preocupações como hardware. O problema depende do provedor de cloud (sim, com cloud você vai depender de alguém processar, armazenar os dados) te dar a liberdade de fazer certas chamadas, te dar bibliotecas.

    No fundo, não é muito diferente da mudança das corporações de ofício para a revolução industrial: perda da capacidade local de transformação e sujeição a alguém com essa capacidade.

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